De origens ancestrais, o vasto território da zona da Tocha havia sido doado ao Mosteiro de Santa Cruz, de Coimbra, por D. Afonso Henriques, aproximadamente no ano de 1140. Pinho Leal, na sua obra em Portugal Antigo e Moderno de 1878, caracteriza assim esta freguesia:
Quintan e Tocha (ou Atocha) - ...orago S. João Baptista bispado e distrito administrativo de Coimbra. Foi do suprimido concelho de Cadima. O mosteiro de Santa Cruz, de Coimbra, apresentava o pároco, que tinha 150$000 reis de rendimento. Esta freguesia é oficialmente conhecida pelo nome de Tocha,.... de Atocha; mas foram duas freguesias independentes, ambas dos crúzias de Coimbra: a de Quintan é muito antiga, pois que a da Tocha foi dela desmembrada, no princípio do sec. XVIII, ficando paróquia independente. Hoje formam, outra vez, uma só freguesia. Nenhuma delas vem no Portugal Sacro e Profano, provavelmente por esquecimento, pois já existiam muitos anos antes da publicação deste livro. Terra muito fértil em todos os géneros agrícolas do nosso País. Quintan, Quintea e Quintare é portugués antigo, o mesmo que Quinta. Quintanilha é o seu diminutivo, isto é, pequena quinta, quintinha.
No dicionário Histórico e corográfico de Esteves Pereira e G. Rodrigues, de 1907, a criação da Freguesia é referida nos seguintes termos:
A esta freguesia está há muitos anos anexa á da Quinta, que pertencia como ela, aos crúzios de Coimbra, sendo S. João Baptista o orago desta, e de Nossa Senhora da Tocha, o de outro. A freguesia de Quinta, era porém, a mais antiga das duas, pois que a Tocha foi dela desmembrada no príncipio do séc. XVIII, passando a formar uma paróquia independente. Há muitos anos, porém, que estão outra vez reunidas as duas freguesias.
Efectivamente, a Tocha pertenceu ao concelho de Cadima até a sua extinção, em 31 de Dezembro de 1853, integrando a partir de então o concelho de Cantanhede e pela lei n.º 62/85 de 9 de Julho, é elevada a categoria de Vila. A Quinta da Fonte Quente, outrora independente, é loja de capelaria de Nossa Senhora da Tocha, e na freguesia de Cadima existe um lugar chamado Quintã, que tem capela dedicada, não a S. João Baptista, mas a Santo Amaro. A igreja paroquial de Cadima, já existia em 1181, cujo concelho foi criado pelo Foral de 23 de Agosto de 1514, dado por D. Manuel I, em Lisboa. A antiguidade de Cadima comprova-se pela existência da antiga freguesia de Santa Maria, Nossa Senhora do Ó, pois as Igrejas hispano-visigóticas celebravam a festa da Expectação do Parto ou Santa Maria do Ó, por determinaçao do X Concílio de Toledo, no ano de 656. Em 1708, Cadima era vigararia do termo da Vila de Tentúgal, em 1751, do termo da Vila de Montemor-o-Velho; e, em 1840, passou para Cantanhede. Os terrenos de Cadima e Tocha foram domínio do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que entregava as terras um aforramento a rendeiros sob a sua jurisdição. Cadima pertencia-lhe já desde o séc. XII e Tocha viria a aparecer apenas no séc. XVII, com a lendária ermida de Nossa Senhora D'Atocha, ou Tocha, como já aparece escrita em 1712, no livro Santuário Mariano do historiador Frei Agostinho de Santa Maria, em que se relatam com pormenores factos relativos ao Santuário da Tocha. Este Santuário começou em 1610, segundo dados históricos, por ser uma ermida erigida em Louvo de Nossa Senhora D' Atocha, já venerada em Madrid, desde 1162. Posteriormente, escrituras históricas de 1623 mencionam igualmente terras circundantes da Tocha. O templo que veio a substituir a ermida começou a ser edificado em 14 de Março de 1654, de acordo com o Professor Universitório Padre Nogueira Gonçalves, baseado na Crónica de Santa Cruz de D. Frei Timóteo dos Mártires. Em 1670, foi entronizada neste templo a imagem da referida Padroeira (cujo título fora atribuído pelo concílio de Éfeso, em 431, da Era Cristã), transferida da anterior ermida, com grande festa em 2 de Julho sob o mistério da Visitação. Na referida festa da visitação, criada em 1389, pelo Papa Urbano V, medita-se com Magnificat, o célebre canto de Maria: "O meu coraçãoo louva o Senhor, porque Ele olhou para esta sua humilde serva! Ele é sempre misericordioso para aqueles que O adoram." (cf. Lc. 1-46, 48, 50) Esta foi a grande festa deste santuário, pois Santa Maria é Nossa Senhora da Luz (Tocha ardente) da qual nasceu Jesus (Mt. 1-16) Da cultura popular, chega-nos a história da fundação deste povoado, intimamente relacionado com a sua Padroeira. Nossa Senhoa D' Atocha, a mais antiga padroeira de Madrid, é uma imagem de Santa Maria Sentada com o Menino no braço esquerdo. Conta a tradição que um apóstolo de Antioquia levou para a capital espanhola uma imagem da Santíssima Virgem, a quem levantou uma ermida. Nos campos cobertos de esparto (atochadas) é planta pocea, cujas folhas servem para manufacturar cordas, capachos e outros utensílios. A imagem tomou o nome de Senhora das Atochadas ou de Atocha. Os milagres da Santa fizeram crescer o culto e logo começaram grandes romarias. Em 1162, a ermida foi agregada à Igreja de Santa Leocádia. Carlos I, em 1523, fundou nova Igreja e convento, de que se ocuparam os irmãos da Ordem dos Pregadores, com aval do Papa Adriano VI, vindo a ter o padroado real. Senhora milagrosa de muita devoção, em Madrid, passou a ser venerada na região da Gândara, depois de ali ser construída uma ermida, em cumprimento de uma promessa de um fidalgo galego. Narra a lenda que esse fidalgo, denominado João Garcia Bacelar, vivia na Galiza, mas ainda menino foi levado para Madrid para casa de um tio. Um dia, quando o menino saiu montado numa mula, acompanhado de seus criados, caiu num precipicio. Logo envocou a Senhora D'Atocha para que o salvasse de tão alta queda. E assim foi, os criados encontraram-no sentado numa pedra, são e salvo, tal como a mula. João Garcia Bacelar, apesar de ainda muito novo, desde então prometeu que se algum dia viesse a ser pessoa importante, edificaria uma ermida em sua honra. De facto, quando este fidalgo regressa à sua terra Natal é Ponteveda, na Galiza e depois viaja para Portugal, onde tinha um tio muito rico, que o adoptou. Numa das suas viagens pelas charnecas muito extensas e desertas é as Gãndaras chegam à Quinta da Fonte Quente, pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz, mas onde vivia um lavrador que rompia os matos da região. E porque se tivesse interessado pelo lugar, João Garcia Bacelar não esqueceu o voto que fizera em criança e assim tratou de ajustar uma troca com o lavrador. Ali instalado, o fidalgo mandou edificar uma ermida a Nossa Senhora D' Atocha, que desde então, não parou de fazer muitos milagres.
No campo historico-cultural, haveria muitos nomes a referir, além do fidalgo do séc. XVI, João Garcia Bacelar, do escritor de 1712, Frei Agostinho de Santa Maria, de Visitadores e Priores de Santa Cruz, dos diversos, homens bons da terra, edis, autarcas, páracos e profissionais de todos os ofícios e mestres que engrandeceram a terra da Tocha. Do séc. XX, destaca-se a figura do Professor Doutor Manuel Santos Silva, director do Hospital-Colónia Rovisco Pais, cuja actividade se iniciou em 1947. São muitas as referências á sua dedicação, por naturais da freguesia e por centenas de leprosos com a doença de Hansen. Pelo seu carinho e trabalho, tem hoje o seu nome atribuído a uma rua no largo da Igreja Matriz. Por outro lado, lembra-se também o nome do Dr. João Adelino da Silva Pereira, que foi presidente da Camâra Municipal de Cantanhede e alvo de uma homenagem na Praia da Tocha, visto ser um impulsionador do seu desenvolvimento. Em 13 de Agosto de 1967, foi dado o seu nome à Avenida Atlântica, paralela ao mar.